A amamentação é a forma mais natural de alimentar o seu bebé, mas pode ser preciso tempo e prática até estarem em sintonia. Compreender se o bebé está a fazer uma pega correta pode ser uma enorme ajuda para estabelecer a alimentação.
Pode necessitar de apoio nos primeiros dias e semanas após o parto e para isso deve idealmente consultar um profissional de saúde qualificado no apoio à amamentação que o ajude neste processo. Perceber se está tudo bem logo de início pode ajudar a evitar problemas no futuro, transformando assim a sua jornada da amamentação num processo maravilhoso de sintonia e vinculação com o seu bebé.
No início da amamentação um dos mitos mais prejudiciais é o de que a dor aguda e o aparecimento de fissuras nos mamilos é normal e que faz parte do processo de adaptação.
A forma como o bebé pega e se posiciona na mamada é muito importante para prevenir o aparecimento de fissuras e dor, assim como para aliviar e facilitar a cicatrização depois destas aparecerem. Pode ser frustrante e angustiante para si e para o seu bebé, podendo significar que o bebé não está a conseguir drenar bem a mama, por consequência ganhar pouco peso, reduzindo a produção de leite, podendo ainda levar a um bloqueio de ductos e consequentemente uma mastite.
Mesmo numa mãe muito motivada para amamentar, um posicionamento desconfortável e/ou pega pouco eficaz pode condicionar para um processo doloroso nas primeiras semanas de vida e, por isso, levar ao abandono precoce da amamentação, sendo esta a causa mais comum de desmame nas primeiras semanas.
Uma pega eficaz existe quando o bebé se orienta para o mamilo, abre muito bem a boca, estende a língua por cima do lábio inferior e agarra/pega na mama, envolvendo-a com a língua, para começar, de seguida, movimentos de sucção conseguindo assim retirar leite com facilidade e a mãe não sente dor.
Uma pega eficaz nem sempre é fácil. Deixo então, aqui alguns conselhos e dicas para a ajudar a efetuar uma pega correta e confortável.
Como promover uma pega eficaz?
1.Verifique a sua posição
Antes de começar certifique-se de que está confortável. Pode usar travesseiros ou almofadas para apoiar as costas, os braços ou o bebé. A melhor posição é aquela em que mãe e bebé estão confortáveis, sendo o mais importante que o corpo, o pescoço e a cabeça do bebé estejam alinhados.
2. Encoraje o seu bebé a abrir a boca
Segure o bebé junto a si, com o mamilo ao nível do seu nariz, tocando suavemente no lábio superior para o encorajar a abrir bem a boca. Quanto mais aberta estiver a boca, mais fácil será para ele pegar bem a mama.
3. O bebé deve ser levado à mãe
Com a boca bem aberta e a língua sobre o lábio inferior, aproxime o bebé bem da mama, apontando o mamilo para o “céu da boca“, tendo o queixo do bebé encostado na sua mama. Ele deve colocar uma boa parte da aréola na boca e não apenas o mamilo, e com o lábio e o maxilar inferiores cobrir mais a parte de baixo da aréola.
4. Mantenha o bebé bem junto a si quando ele pega na mama
Todas as mães têm formas de mamas e posições de mamilos diferentes, por isso não se deve generalizar a forma de pegar a mama que vem nos livros. Sempre que possível deve manter o bebé junto a si, com o queixo em contacto com a mama, o nariz irá ficar virado para cima para poder respirar facilmente enquanto está a mamar, aprendendo assim a coordenar a sucção e a respiração com facilidade.
Se a mulher tiver mamas muito volumosas, pode pressionar a mama contra o tronco, segurando-a e erguendo-a com a mão oposta (mama direita/mão esquerda), colocando os quatro dedos juntos por baixo da mama encostados à grade costal e o polegar acima da aréola, ficando assim a mão em ”C”.
Um bebé sem contacto com a mama da mãe tem menor probabilidade de iniciar movimentos de busca da mama, se a cara e o queixo perdem contacto com a mama durante este processo, o recém-nascido reage como se tivesse sido separado da mãe com ansiedade e stress. Algumas mães perante esta situação, podem pensar que o bebé está a rejeitar a mama, por isso, deve acalmar o bebé, facilitar o contacto da mama com a face e voltar a colocar o bebé numa posição neutra, ajudando assim o bebé a reorganizar o seu comportamento e a acalmar-se para voltar a iniciar a mamada.
5. Olhe e ouça
Observe o seu bebé. No início, vai usar movimentos de sucção curtos e rápidos para estimular o fluxo de leite (reflexo de descida de leite). Assim que o leite começar a fluir, o bebé vai ter movimentos mais lentos e profundos com algumas pausas, que indicam normalmente que o bebé está a engolir. É um bom sinal! Nesta fase consegue ver se o seu maxilar está a mexer e também deve ouvi-lo a sugar e a engolir, à medida que se alimenta.
Além do posicionamento não se esqueça que existem outras questões que podem interferir na amamentação:
- Uso de tetinas (chupetas, biberão, mamilos de silicone);
- Intervenções no parto (medicação, contato pele a pele ou não, tipo de parto, etc);
- Questões anatómicas do bebé ou da mãe (freio da língua/lábio curto, mamilos/mamas diferentes, etc);
- Problemas de saúde do bebé.
Em resumo
- Bebé e mãe têm comportamentos neurológicos instintivos e inatos que lhe permitem iniciar e manter a amamentação, um ambiente acolhedor, tranquilo e o suporte da família e profissionais são importantes para os promover;
- A sucção do bebé não deve provocar dor, causar fissuras nos mamilos e não são os mamilos que se têm de “habituar” à sucção do bebé;
- Um posicionamento favorável e correto (com o bebé junto ao corpo da mãe e apoiado no corpo dela) pode resolver grande parte das dificuldades na amamentação;
- Verifique que o queixo do bebé está a tocar na sua mama e que consegue respirar pelo nariz, a boca está bem aberta e abocanha uma grande parte da aréola (não só o mamilo). Começará com movimentos de sucção curtos, passando para movimentos mais lentos e profundos.
- Pode e deve pedir ajuda de uma conselheira de amamentação logo que surja alguma dificuldade.
Artigo escrito por Carmen Pacheco, Enfª Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia e fundadora do projeto Mãe.Ponto