A secura vaginal é um sintoma que pode surgir na mulher, em diferentes momentos ao longo da sua vida, podem surgir outros sintomas relacionados, como o prurido (comichão), urgência miccional, incontinência urinária de urgência e dispareunia (dor na relação sexual).
As etiologias podem ser distintas, assim como as medidas de tratamento. É importante que exista abertura, disponibilidade e sensibilidade por parque dos profissionais de saúde, tanto na recolha da informação como nas propostas de tratamento, até como na envolvência do companheiro para melhor compreensão da situação e reconhecimento dos ganhos efetivos na qualidade de vida para ambos.
A relação de confiança entre a utente e os profissionais de saúde é preponderante, principalmente em assuntos de índole tão íntimo. Sabemos que a maioria das mulheres não menciona estas queixas por vergonha, por ser um assunto tabu, da esfera íntima; referir que tem dispareunia ou algum desinteresse sexual é constrangedor, preferindo não falar sobre o assunto, achando mesmo que é algo inevitável e associado ao envelhecimento.
Como causas mais comuns temos
Alterações hormonais fisiológicas e iatrogénicas. A redução dos estrogénios normalmente surge com o aparecimento da menopausa (com o cessar da função ovárica), a secura vaginal é a segunda queixa mais referida pelas mulheres nesta fase, mas somente cerca de 7% destas mulheres são tratadas para sintomas vulvovaginais, de acordo com o estudo REVIVE (Real Women’s Views of Treatment Options for Menopausal Vaginal Changes).
A vulva e a vagina respondem a este hipoestrogenismo com alterações anatómicas e do trofismo, como sejam o aumento do ph e das células parabasais e a redução das células superficiais, condicionando a redução da secreção dos fluidos vaginais e dos níveis de lactobacilos. Contudo, podem surgir outros momentos que reduzem os estrogénios, como durante a amamentação, pós-parto e também quando se utilizam medicamentos anti estrogénio para tratamentos de outros problemas.
Produtos utilizados na região íntima, podem provocar alergias ou irritações, principalmente se for recorrente o uso de irrigações vaginais com produtos que provoquem a alteração progressiva do ph fisiológico da vagina, alteração da flora vaginal, podendo predispor a infeções vulvogenitais, secura vaginal, dor, prurido. O uso de roupa íntima com tecidos em fibra e não de algodão, também pode causar esse tipo de irritação, provocando secura vaginal, assim devem ser utilizados produtos de higiene íntima adequados e roupa íntima de algodão.
A ansiedade e stress podem provocar alterações no funcionamento normal do corpo da mulher, podendo originar uma diminuição da libido e do desejo sexual da mulher, o que pode levar a uma diminuição da produção de lubrificante vaginal.
Muitos medicamentos podem ter efeitos secundários. Algumas das formas mais comuns de medicação que podem ter um efeito negativo na lubrificação vaginal são a pílula contracetiva, os antidepressivos e alguns antibacterianos. Esses tipos de medicamentos podem alterar os níveis hormonais de estrogénios, alterando os níveis de humidade ou fluidos produzidos pela vagina.
A dinâmica sexual de cada casal é singular, cada mulher pode responder de forma diferente e em tempos diferentes a cada estimulação. É importante que a estimulação sexual decorra com naturalidade, compreensão e tempo, para que as alterações fisiológicas com o aumento da libido feminina possam repercutir-se ao nível da lubrificação vaginal, evitando a penetração sexual sem a devida estimulação.
Qualquer que seja a causa, pode ter um forte impacto na qualidade de vida, podendo limitar as atividades básicas diárias, como andar, sentar e praticar exercício físico, mas sobretudo a nível sexual, redefinindo o papel de ser mulher.
Condutas e tratamentos
Há diversos tratamentos disponíveis no mercado, na grande maioria tratamentos locais com pouco ou nenhum efeito secundário, pela sua ação sistémica ser nula ou muito reduzida. Temos à nossa disposição tratamento hormonal, sistémico ou apenas vulvar e vaginal (estradiol, estriol e colpotrophine), em doses e formulações diferentes – creme, gel e comprimidos vaginais.
Na situação do pós-parto e amamentação, as alterações nos níveis de estrogénios normalmente são transitórias, desde que compreendidas pela mulher/casal, o tratamento também ele transitório, é simples.
A abordagem não hormonal, muito focada nas situações transitórias, como pós-parto e amamentação, inclui diversos hidratantes e lubrificantes vaginais, sem qualquer limitação no seu uso, e temos ainda, uma nova opção terapêutica vaginal, a prasterona em óvulos que, para além do tratamento da secura vaginal, poderá ter uma ação benéfica a nível sexual.
Em condições clínicas mais complexas, com necessidade de recurso a medicamentos anti-estrogénios, o tratamento poderá ser muito semelhante, embora do ponto de vista psicológico não tão facilmente aceite.
Têm surgido outras abordagens terapêuticas, como a aplicação do laser na vagina. É um método que, em vários países, tem vindo a expandir-se, nomeadamente em Portugal. Não sendo uma terapêutica de primeira linha e que carece de mais estudos a longo prazo, percebe-se que os resultados mais recentes são esperançosos para quem, por exemplo, dispensa terapêuticas tópicas.
O ácido hialurónico, que promove a hidratação da mucosa da vulva e da vagina, não apresenta contraindicações, mas, tal como o laser, implica intervenção médica e o incómodo das injeções locais.
É importante perceber o balanço francamente positivo, dada a simplicidade e a disponibilidade dos tratamentos, hormonal ou não, face aos ganhos em qualidade de vida.
Artigo escrito por, Pedro Correia, Enfermeiro de Saúde Materna e Obstétrica