Não se sabe muito sobre a complexidade dos fatores envolvidos no desenvolvimento da ansiedade durante a gestação, mas a verdade é que entre 20 a 30% das mulheres experimentam algum tipo de ansiedade durante a gravidez. A gravidez por si só pode levar à ansiedade, porque é um período de muita transformação física e emocional, que traz novos desafios para a futura mãe, para o seu relacionamento e para a sua nova vida.
O historial de ansiedade na família pode ajudar a prever a ansiedade, mas nem sempre é o caso. Fatores como o perfeccionismo, ser muito exigente consigo própria e não procurar ajuda, podem contribuir para o desenvolvimento de um alto nível de ansiedade. O stress contínuo como resultado da pressão no trabalho, relacionamentos familiares, problemas de fertilidade, constante preocupação, medo do parto e da maternidade, podem tornar-se verdadeiros rastilhos para o desenvolvimento dos sintomas da ansiedade.
Mas o que é exatamente a ansiedade normal e o que não é?
Existe uma clara diferença entre estar preocupada com algo e ser consumida pela sua preocupação. Todas as pessoas se preocupam, é normal, natural e humano, mantém a mãe longe de situações potencialmente perigosas para si e para o seu bebé.
A maioria das grávidas preocupam-se em ser boas mães, se o seu bebé é saudável, em como o seu relacionamento poderá vir a mudar, e podem mesmo tornarem-se mais emocionais e sensíveis, e perder algumas noites de preocupação.
Mas se sentir persistentemente:
- Dificuldade em concentrar-se;
- Problemas no funcionamento normal no trabalho ou em casa;
- Sentimentos de desespero;
- Sensação frequente de medo ou inquietação;
- Pensamentos de preocupação e antecipação contínuos;
- Sensação frequente de pânico;
- Fadiga severa;
- Irritabilidade;
- Padrões de sono inquietos e interrompidos;
- Palpitações cardíacas, ondas de calor, tonturas, náuseas e tensão muscular.
Se estiver a sentir persistentemente níveis altos de algum ou alguns destes sintomas, isso não é normal nem saudável, e definitivamente pode afetar a sua capacidade de funcionar normalmente.
Devia dar-se tanta importância à saúde mental da futura mãe como se dá à sua saúde física, e as mulheres podem sentir-se bastante sozinhas ao lidar com este problema durante a gravidez principalmente porque o seu parceiro ou familiares podem não entender como, num momento que devia ser tão feliz na sua vida, se podem estar a sentir tão mal. A futura mãe deve fazer um esforço para comunicar e expressar os seus sentimentos, mesmo quando se sentem vulneráveis e incompreendidas. É importante relembrar que, durante a gravidez, a mãe está a criar e a inspirar o desenvolvimento físico e emocional do seu bebé dentro de si. O bebé sente o que a mãe sente como se fosse a sua própria experiência, e uma mãe que decide agir e superar os seus desafios também está a transmitir ao seu bebé a vivência de que os desafios podem ser superados.
Altos níveis de ansiedade afectam a mãe e o bebé
Quando uma mulher grávida sofre de altos níveis de ansiedade, ela pode desenvolver mais queixas físicas em comparação com outras mulheres grávidas, pode estar mais predisposta a ter um nascimento prematuro, um parto de cesariana, baixo peso do seu bebé e baixo nível de APGAR no recém-nascido. Pode também estar mais em risco de desenvolver stress pós-traumático e depressão pós-parto.
As hormonas do stress desencadeadas pela ansiedade na mãe afectam também o desenvolvimento físico, emocional e mental do bebé. Os efeitos a longo prazo incluem aumento da reatividade emocional do bebé, problemas de atenção e dificuldade no vínculo entre ambos.
Como tratar a ansiedade durante a gravidez
Hoje em dia existem muitas alternativas eficazes ao tratamento da ansiedade durante a gravidez que não recorrem ao uso de medicamentos.
Os estudos demonstram que as técnicas de respiração e relaxamento reduzem significativamente a ansiedade ajudando a futura mãe a voltar-se para dentro de si, para o seu corpo, para a sua respiração , focando-se no seu bem-estar e aproveitando a oportunidade para se conectar profundamente com seu bebé neste momento tão importante das suas vidas.
O yoga e a meditação para grávidas também têm demonstrado excelentes resultados em estabilizar as hormonas do stress. A grávida deve também dar prioridade ao seu ciclo do sono, pode mesmo marcar um horário durante o dia para desacelerar e tomar consciência dos seus sentimentos e do seu bebé. Durante o dia aproveitar para fazer uma caminhada de 10 minutos ou marcar uma ida à piscina para relaxar na água, identificando-se assim com o mesmo ambiente aquático do seu bebé, ajudando à conexão entre ambos . Ouvir música, comer saudavelmente, ou apenas receber uma massagem de um profissional ou do seu parceiro é outra forma de acalmar a ansiedade.
Informe-se e arme-se de conhecimento
Estas estratégias sozinhas ou combinadas podem ser suficientes para ajudar a grávida a sentir menos stress e ansiedade, tomando consciência do seu ambiente interno, dos seus estímulos e reações, mudando assim os seus hábitos e comportamentos. Deve ter sempre presente que terá o seu bebé e o seu instinto maternal do seu lado, e que realmente saberá o que fazer quando interiorizar pensamentos positivos, de confiança e alegria. Você é a melhor mãe para seu bebé e o que ele realmente precisará é de todo o seu amor.
Artigo escrito pela Professora de Yoga e Educadora Pré-Natal Susana Lopes, Fundadora do projeto Yoga e Maternidade