A criopreservação do sangue e tecido do cordão umbilical é, hoje em dia, uma importante opção por parte dos pais relativamente ao futuro do seu bebé e até da sua própria família.
O cordão umbilical é um excelente reservatório de células estaminais e estas células têm a capacidade de proliferarem e se diferenciarem em diferentes tipos de populações de células do nosso corpo – são chamadas células totipotentes, que se conseguem dividir indeterminadamente, autorrenovarem-se e diferenciarem-se em células com diferentes funções e características.
Durante o desenvolvimento embrionário, as células estaminais especializam-se originando os vários tipos de células do corpo (células do músculo cardíaco, neurónios, glóbulos vermelhos ou células da pele). Nos adultos, estas células são capazes de reparar tecidos danificados e substituem as células que vão morrendo.
A colheita das células é feita depois do nascimento do bebé e do corte do cordão umbilical, sendo um processo seguro e sem risco para a mãe e para o bebé. A sua criopreservação deve ser realizada dentro das 72 horas seguintes.
O processo de criopreservação é simples. As células ou tecidos biológicos são preservados por longos períodos a baixas temperaturas, em azoto líquido a –196º C ou na sua fase de vapor a -150º C sem que percam a viabilidade celular mesmo por longos períodos, nomeadamente de 20 a 25 anos. Esta técnica permite que as células estaminais isoladas a partir do sangue e do tecido do cordão umbilical, exclusivamente colhidas no dia do parto, sejam criopreservadas para posterior aplicação clínica em caso de necessidade, quer para uso próprio ou familiar.
As células estaminais constituem um recurso terapêutico que, atualmente, já foi utilizado no tratamento de cerca de 80 doenças graves, estimando-se que no futuro este número venha a aumentar. As doenças em que estas células podem ser usadas como tratamento incluem doenças do sangue (como leucemias, alguns tipos de anemias ou situações de hemoglobinopatia), do sistema imunitário, doenças metabólicas e, ainda, algumas doenças oncológicas.
Em Portugal, já há registo de casos de sucesso de utilização alogénica (transplante com células estaminais de um dador familiar) no tratamento de imunodeficiências combinadas severas entre irmãos, com recuperação total do doente. Existem também casos de utilização autóloga (transplante com células estaminais do próprio) em crianças com paralisia cerebral. Ocorreram cerca de 80 transplantes com sangue do cordão umbilical em Portugal entre 2002 e 2019.
A lista de histórias de sucesso estende-se a muitos outros países. Há vários casos de tecidos humanos criados a partir de células estaminais que ajudaram a salvar vidas.
Assim, com a aplicação atual das células estaminais na prática clínica diária, o procedimento de criopreservação do sangue e tecido do cordão umbilical é fortemente recomendado, uma atitude que pode fazer a diferença na vida de um bebé e sua família.
Por Dra. Augusta Matos, Médica Ginecologista e Obstetrícia,
Fundadora das Clínicas Augusta Matos