A liberdade de escolha na gravidez e no pós-parto é um dos pilares fundamentais da autonomia feminina e da dignidade humana.
No entanto, apesar dos avanços sociais e legislativos, ainda existem desafios e barreiras que restringem essa liberdade, frequentemente sob o pretexto de normas culturais, religiosas ou institucionais.
Garantir que as mulheres possam decidir sobre os seus próprios corpos não é apenas uma questão de direitos individuais, mas também um imperativo de justiça social e saúde pública.
A gravidez é uma experiência profundamente pessoal e transformadora. Cada mulher deve ter a liberdade de tomar decisões informadas sobre o seu corpo e futuro. Isso inclui:
- Acesso a informação clara e baseada em evidências: O direito a informação rigorosa, acessível e isenta de preconceitos é essencial para que as mulheres façam escolhas conscientes sobre a sua saúde e a do bebé.
- Planeamento familiar e contraceção: A liberdade de escolha começa antes da conceção, garantindo o acesso a métodos contracetivos eficazes e permitindo que cada mulher planeie a maternidade de forma responsável.
- Escolha do tipo de parto: Cada mulher deve poder decidir, juntamente com profissionais de saúde, qual o melhor tipo de parto para si — natural, cesariana ou domiciliar — sempre com foco na segurança e no bem-estar materno e fetal.
O período pós-parto é uma fase de mudanças intensas, tanto físicas como emocionais. Infelizmente, muitas mulheres enfrentam pressões e julgamentos que limitam a sua autonomia. Entre os aspetos mais importantes estão:
- Amamentação ou alimentação alternativa: Embora a amamentação seja amplamente incentivada pelos seus benefícios nutricionais, nenhuma mulher deve sentir-se obrigada a amamentar. A escolha deve ser respeitada e apoiada, independentemente das circunstâncias.
- Apoio psicológico e emocional: A depressão pós-parto é uma realidade para muitas mulheres, e o acompanhamento psicológico adequado deve ser um direito garantido pelos sistemas de saúde.
- Licença de maternidade e regresso ao trabalho: O momento de voltar ao mercado de trabalho deveria ser uma escolha da mulher, não uma imposição social ou económica. Políticas de apoio à maternidade, como flexibilidade laboral e creches acessíveis, são essenciais para garantir essa liberdade.
- Métodos contracetivos pós-parto: Muitas mulheres enfrentam pressões para adotar métodos definitivos ou encontram dificuldades no acesso a contracetivos. O planeamento familiar deve continuar a ser um direito assegurado em todas as fases da vida.
A liberdade de escolha na gravidez e no pós-parto não deve ser encarada como um privilégio, mas como um direito inquestionável.
Negar a uma mulher o poder de decidir sobre o seu próprio corpo é uma violação dos seus direitos humanos e um atentado à sua dignidade. É crucial que governos, profissionais de saúde e a sociedade promovam um ambiente onde as mulheres se sintam seguras para fazer as escolhas que melhor se adequam às suas vidas, sem medo de julgamentos ou represálias.
A verdadeira igualdade de género passa pelo reconhecimento da autonomia feminina em todas as fases da vida. Respeitar essas escolhas não beneficia apenas as mães, mas toda a sociedade, promovendo um mundo mais justo, inclusivo e humano.
Artigo escrito por, Enfermeira Cláudia Boticas
Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia e Conselheira de Leite Materno