Atualmente, assistimos a uma maior participação do pai ou do companheiro da grávida
durante o trabalho de parto.
Esta presença estende-se também à gravidez e ao pós-parto, o que tem levado a um aumento do número de participantes do companheiro em cursos, formações e webinars sobre maternidade e parentalidade.
A participação ativa do companheiro tem vindo a ser cada vez mais valorizada socialmente, sendo igualmente uma questão geracional – estar presente, ativo e visível enquanto pai e companheiro é agora uma expectativa da sociedade.
A grávida e o seu bebé formam uma equipa que pode trabalhar sozinha; no entanto, ao
juntarem o companheiro de parto, tudo se torna mais fácil e eficaz.
Para uma experiência de parto verdadeiramente positiva, a mãe e o seu bebé precisam de todas as condições necessárias. O corpo da mulher foi desenhado para dar à luz, e o bebé vem programado para nascer. Mãe e bebé são os principais intervenientes do parto, trabalhando em equipa e ajudando-se mutuamente.
O bebé tem a competência natural de se colocar na posição mais favorável para o nascimento.
A posição ideal é de cabeça para baixo, costas para a barriguinha da mãe e à esquerda, com a cabeça fletida (OEA – Occipto Esquerda Anterior). Este posicionamento é crucial, e o bebé sabe instintivamente que precisa colocá-la para facilitar a passagem pelo canal de parto.
Por sua vez, a mãe tem como competência durante o parto facilitar o trabalho do bebé,
mantendo-se em movimento e utilizando técnicas como caminhar, usar a bola de parto, o
chuveiro ou até dançar.
Essas práticas ajudam a relaxar a pelve e a ampliar o espaço interno, criando as melhores condições para que o bebé possa progredir com facilidade.
No entanto, além do trabalho físico, o aspeto mental é igualmente importante.
A mãe precisa estar tranquila, sem medos nem ansiedades, pois o funcionamento do útero, que origina as contrações, e o sistema endócrino, que produz as hormonas do parto, são ativados pelo sistema nervoso, que reage diretamente às emoções da grávida.
Quando a grávida está tensa, ela promove a inibição da produção das hormonas do parto,
como a ocitocina e as endorfinas, e altera o funcionamento do útero devido à ação das
hormonas do stress, tornando-o mais cansado e doloroso. Isso pode resultar num parto mais demorado, frequentemente culminando em intervenções médicas, como partos instrumentados, uso de hormonas artificiais ou partos por cesariana.
Todas as grávidas devem aprender a utilizar ferramentas que as ajudem a manter a calma, a encontrar um ambiente seguro para dar à luz e a lidar com as emoções que surgem durante o processo.
Este trabalho é amplamente facilitado quando o companheiro sabe como apoiar a
grávida, tornando o parto mais tranquilo, rápido e seguro.
Eu sou uma defensora de que a presença do acompanhante durante o parto é fundamental, e por isso o meu acompanhamento e preparação para o parto é sempre para o casal.
Se ambos vivem juntos e desejam ter e criar o seu bebé, ambos devem estar presentes e aprender a libertar-se das crenças negativas e dos medos, substituindo-os por conhecimento, esperança e tranquilidade.
A experiência tem-me mostrado que muitos acompanhantes têm o verdadeiro desejo de
ajudar a grávida durante o parto, mas nem sempre sabem como o fazer.
Além disso, frequentemente chegam com crenças desajustadas da realidade. Ajudar a grávida durante o parto envolve diversas competências, das quais destaco as seguintes:
O Protetor
O companheiro deve ser o guardião do espaço emocional da grávida, protegendo-a das
influências externas e mantendo-a na sua “bolha” de tranquilidade.
A grávida deverá sentir que pode entregar-se ao processo sem distrações externas.
O Porta-voz
O companheiro também tem o papel de ser a ponte entre a grávida e os profissionais de saúde.
Ele deve garantir que a comunicação entre a grávida e os enfermeiros e médicos seja clara, eficaz e respeitosa, mantendo a grávida focada no seu processo sem interrupções desnecessárias.
O Porto de Abrigo
O companheiro deve ser uma fonte constante de apoio emocional. A sua presença deve ser
reconfortante, oferecendo compreensão, amor e paciência durante todo o processo de parto.
Vou dar algumas dicas sobre o que o companheiro de parto deve oferecer:
Para promover o bem-estar emocional da grávida, o companheiro deverá estar presente desde o início do trabalho de parto, seja em casa ou na maternidade, proporcionando conforto e incentivando momentos de relaxamento.
Ele poderá usar técnicas como massagens suaves, banhos relaxantes e respiração consciente para ajudar a grávida a manter a calma e a lidar com os primeiros desconfortos das contrações.
Para promover o bem-estar físico da grávida, o companheiro deverá aprender as vantagens de um parto em que a grávida tem a possibilidade de caminhar, adotar diferentes posições, usar a bola de parto e a suspensão.
Deverá também conhecer as técnicas que pode aplicar, como o rebozo, a contrapressão, as massagens e as respirações. Além disso, deverá garantir que a grávida tenha à sua disposição água, comida, descanso e condições para a eliminação.
Para garantir um ambiente de parto ideal, o companheiro deverá ajudar a criar um ambiente tranquilo e propício ao parto, seja em casa ou no hospital.
Isso inclui ajustar a iluminação, controlar a temperatura, colocar música suave (garantindo que os fones e a coluna de som estejam disponíveis), usar aromaterapia e proteger a privacidade da grávida.
Tudo isso deve ser feito com o objetivo de manter a grávida relaxada, confortável e focada, garantindo o progresso do trabalho de parto.
Para garantir o apoio logístico, o companheiro deverá cuidar de aspetos práticos, como
verificar se a mala da maternidade está completa antes de sair de casa, se leva todos os
documentos necessários, o kit de criopreservação (se optarem por recolha), os carregadores de telemóveis e os snacks para si e para a grávida.
No transporte até ao hospital, deverá garantir uma viagem tranquila e sem pressa. Ele também deve cuidar de detalhes logísticos e burocráticos que possam surgir durante o processo.
Quando a mulher chega à maternidade, normalmente as contrações diminuem de frequência, por isso ela deve manter-se na sua bolha, por exemplo, ouvindo música ou uma meditação, deixando o companheiro fazer a inscrição e cuidar dos pormenores.
Para incentivar a grávida a continuar e não desistir, o companheiro deverá encorajá-la a confiar nos seus instintos naturais e lembrá-la da sua força e capacidade de dar à luz, utilizando afirmações positivas e estando presente ao seu lado.
Para manter a sua própria calma e energia, o companheiro deverá ser capaz de manter a sua serenidade. Para que isso seja possível, ele também deverá ter aprendido como o fazer. A sua energia deve ser uma fonte de estabilidade e apoio para a grávida.
À medida que a grávida vai mergulhando nas intensas alterações físicas e emocionais do parto, desconectando-se do mundo exterior e concentrando-se nas suas necessidades e nas do seu bebé, o companheiro cria uma “bolha de amor” que a envolve. Esta bolha de segurança faz com que a grávida se sinta protegida e segura, contribuindo para um parto mais tranquilo.
Este estado de confiança e tranquilidade é um dos maiores aliados para um parto mais rápido, menos doloroso e mais natural, sendo também um fator importante na redução de intervenções médicas desnecessárias.
O companheiro de parto que está preparado para agir quer na gravidez, no trabalho de parto e parto, e mesmo no pós-parto, encontra mais alegria, sentimentos de empoderamento e maior vinculação, tanto com a sua companheira quanto com o seu bebé.
Não posso deixar de referir que todo o processo pós-parto – desde a recuperação física da mãe, a manutenção da sua saúde mental, até aos cuidados com o recém-nascido, a amamentação e a adaptação à vida extrauterina – será muito mais fácil, positivo e tranquilo.
O trabalho do companheiro de parto não se resume a um único momento, mas sim ao seu novo papel de pai que começa no início da gravidez.
Em parceria com a sua companheira, ele também conquista a sua experiência de parto positiva.
Artigo escrito por Telma Cabral
Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Infantil